Um estalo ecoa no meio da viagem terra-décimo quarto andar. Sentido no peito, um pressentimento que aos poucos se transfoma na verdade nua e crua de que aquela é a última viagem.
Dois segundos de pânico, acelerado até o último pêlo, esperando o derradeiro segundo.
Que não vem.
Risada com uma sombra de alívio para o espelho, galopando a porta. Chão firme, o hipocondríaco dentro de você aparece dizendo que seria até bom.
E a paranóia segue pela noite. Rolando na cama sem gravidade até cair de sono.
Encarar as escadas ou mudar de prédio?
terça-feira, 10 de setembro de 2013
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
A monarquia
Uma estória que lembrei agora, sem porquê.
Naquela época tensa antes de prestar vestibular, quando todo mundo aponta o dedo na sua cara exigindo saber o que é que vai ser, fiz meu pai pagar as calças no colégio mais coxa da cidade com medo de ficar para trás.
Nunca fui um gênio, longe disso. Nem esforçado. Mas quanto antes estivesse ganhando meu dinheiro, melhor. Ainda flertando com a idéia de ser músico, fui parar no meio de uma galera nitidamente tão mimada quanto hostil. O caminho das pedras sempre é o mais curto.
E foi entre uma grande maioria de futuros advogados, médicos e engenheiros, contando piadinhas em inglês durante as aulas, que aconteceu.
Sei lá, devia ser meu terceiro ou quarto dia de colégio. Poucos tinham se prestado a olhar na minha cara. Um professor bonzinho tentava me enturmar em vão. Depois de elogiar minha letra para a classe por ser pequena e legível, fato bem pouco extraordinário, me questionou abruptamente:
- Qual o seu sistema de governo favorito?
O tema da aula era o Plebiscito de 1996, quando o país "votou" para revalidar seu sistema de governo. Na classe, dois blocos se dividiam entre a benevolente realidade que o presidencialismo lhes proporcionava e um parlamentarismo tão utópico como tudo discutido naquelas aulas.
- Monarquia - respondi.
Alguém fechou uma Folha de São Paulo abruptamente e me olhou. Na cara.
Todos me olharam. Alguns rindo, outros desprezando. Uns com um tiquinho de compaixão. Depois de tentar remendar a resposta por mim e ditar que, a Inglaterra, por exemplo, é uma monarquia parlamentar, deixei claro para o professor:
- Não, só monarquia. Apenas por suposição.
Acho que ninguém entendeu. Na hora, nem mesmo eu.
Naquela época tensa antes de prestar vestibular, quando todo mundo aponta o dedo na sua cara exigindo saber o que é que vai ser, fiz meu pai pagar as calças no colégio mais coxa da cidade com medo de ficar para trás.
Nunca fui um gênio, longe disso. Nem esforçado. Mas quanto antes estivesse ganhando meu dinheiro, melhor. Ainda flertando com a idéia de ser músico, fui parar no meio de uma galera nitidamente tão mimada quanto hostil. O caminho das pedras sempre é o mais curto.
E foi entre uma grande maioria de futuros advogados, médicos e engenheiros, contando piadinhas em inglês durante as aulas, que aconteceu.
Sei lá, devia ser meu terceiro ou quarto dia de colégio. Poucos tinham se prestado a olhar na minha cara. Um professor bonzinho tentava me enturmar em vão. Depois de elogiar minha letra para a classe por ser pequena e legível, fato bem pouco extraordinário, me questionou abruptamente:
- Qual o seu sistema de governo favorito?
O tema da aula era o Plebiscito de 1996, quando o país "votou" para revalidar seu sistema de governo. Na classe, dois blocos se dividiam entre a benevolente realidade que o presidencialismo lhes proporcionava e um parlamentarismo tão utópico como tudo discutido naquelas aulas.
- Monarquia - respondi.
Alguém fechou uma Folha de São Paulo abruptamente e me olhou. Na cara.
Todos me olharam. Alguns rindo, outros desprezando. Uns com um tiquinho de compaixão. Depois de tentar remendar a resposta por mim e ditar que, a Inglaterra, por exemplo, é uma monarquia parlamentar, deixei claro para o professor:
- Não, só monarquia. Apenas por suposição.
Acho que ninguém entendeu. Na hora, nem mesmo eu.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
"Lá vem o Helaehil / descendo a ladeira"
Eu lembro a primeira vez que eu desci aquela ladeira. Lembro como se fosse agora. Os olhos vidrados de medo, os ouvidos lotados de vento e um sorriso peito afora.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Desejo II
Se eu pudesse pedir algo pra Deus, - se é mesmo que ele existe -
pediria pra ser num dia alegre
e no outro um pouquinho triste.
pediria pra ser num dia alegre
e no outro um pouquinho triste.
domingo, 5 de abril de 2009
TÍTULO-PIADA SUPRIMIDO PELO BOM SENSO
E se do alto dos meus 1,71m – medido com um generoso acréscimo por algum cabo raso no dia do alistamento militar – eu estivesse lá? Eu faria alguma coisa? Tentaria, como sempre tento, transformar a situação, desconfortabilíssima, em alguma piada para pôr fim ao assunto?
Tom migável e meio sorriso no rosto, respiro fundo e lá vai.
Porque, sabe, não é fácil reagir. Não é fácil gritar e ser ofensivo com quem quer que seja – eu, pelo menos, não consigo ser assim. Então, com a minha mania de defensor dos oprimidos, me sobra a piada. Só.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Em tempo: sou ótimo romancista da minha vida - sempre perco horas de sono imaginando "o que eu faria se...?" nas mais exdrúxulas situações.
Tom migável e meio sorriso no rosto, respiro fundo e lá vai.
Porque, sabe, não é fácil reagir. Não é fácil gritar e ser ofensivo com quem quer que seja – eu, pelo menos, não consigo ser assim. Então, com a minha mania de defensor dos oprimidos, me sobra a piada. Só.
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Em tempo: sou ótimo romancista da minha vida - sempre perco horas de sono imaginando "o que eu faria se...?" nas mais exdrúxulas situações.
quarta-feira, 25 de março de 2009
La Estrella
Já vi flores de todas as cores brotando do desejo escondido e ganhando o espaço do meu peito de aço pelas horas de um sono perdido. Tenho pouco dormindo, apesar do cansaço, roubando meus sonhos guardados e sonhando assim, acordado – às vezes é tão real que até acredito.
Dia ou outro vem a Aurora e me manda embora, pra fora daquela toda lucidez. Mas eu, insensato, não ouço, disfarço e perco minha noite pela milésima vez. Copos de café e a carreira me salva a carreira. Encaro embalado um prazo apertado – até me pegar divagando em besteira.
Já provei os mais doces licores dos quais os sabores não sei transcrever; já provei das mais puras cachaças, das canas, do açúcar, das bocas ardentes; do céu, do inverno, verão de gravata, da puta, da louca, da esposa e da casta.
Já fui tanto que me sinto pouco.
- Sou tão pouco que eu mal me basto.
Dia ou outro vem a Aurora e me manda embora, pra fora daquela toda lucidez. Mas eu, insensato, não ouço, disfarço e perco minha noite pela milésima vez. Copos de café e a carreira me salva a carreira. Encaro embalado um prazo apertado – até me pegar divagando em besteira.
Já provei os mais doces licores dos quais os sabores não sei transcrever; já provei das mais puras cachaças, das canas, do açúcar, das bocas ardentes; do céu, do inverno, verão de gravata, da puta, da louca, da esposa e da casta.
Já fui tanto que me sinto pouco.
- Sou tão pouco que eu mal me basto.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Z!
Fui-me embora para os sonhos embalado por um fino – vá, minha vida, acelere feito um louco desatino. Livre, enfim, de suas rédeas – minhas pálpebras abertas – vá minha vida, pule e role e se enrole de incertezas.
- Pois o certo não me basta, só me arrasta ao sufoco. De carbonoparadoxo: se estou lúcido, estou louco.
- Pois o certo não me basta, só me arrasta ao sufoco. De carbonoparadoxo: se estou lúcido, estou louco.
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