Uma estória que lembrei agora, sem porquê.
Naquela época tensa antes de prestar vestibular, quando todo mundo aponta o dedo na sua cara exigindo saber o que é que vai ser, fiz meu pai pagar as calças no colégio mais coxa da cidade com medo de ficar para trás.
Nunca fui um gênio, longe disso. Nem esforçado. Mas quanto antes estivesse ganhando meu dinheiro, melhor. Ainda flertando com a idéia de ser músico, fui parar no meio de uma galera nitidamente tão mimada quanto hostil. O caminho das pedras sempre é o mais curto.
E foi entre uma grande maioria de futuros advogados, médicos e engenheiros, contando piadinhas em inglês durante as aulas, que aconteceu.
Sei lá, devia ser meu terceiro ou quarto dia de colégio. Poucos tinham se prestado a olhar na minha cara. Um professor bonzinho tentava me enturmar em vão. Depois de elogiar minha letra para a classe por ser pequena e legível, fato bem pouco extraordinário, me questionou abruptamente:
- Qual o seu sistema de governo favorito?
O tema da aula era o Plebiscito de 1996, quando o país "votou" para revalidar seu sistema de governo. Na classe, dois blocos se dividiam entre a benevolente realidade que o presidencialismo lhes proporcionava e um parlamentarismo tão utópico como tudo discutido naquelas aulas.
- Monarquia - respondi.
Alguém fechou uma Folha de São Paulo abruptamente e me olhou. Na cara.
Todos me olharam. Alguns rindo, outros desprezando. Uns com um tiquinho de compaixão. Depois de tentar remendar a resposta por mim e ditar que, a Inglaterra, por exemplo, é uma monarquia parlamentar, deixei claro para o professor:
- Não, só monarquia. Apenas por suposição.
Acho que ninguém entendeu. Na hora, nem mesmo eu.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
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